Embrapii-UFSCar e Petrobras avançam em desenvolvimento de tecnologias
(Texto: Antonio Rodrigues da Silva Neto)
A Universidade Federal de São Carlos (UFSCar) recebeu, em 14 de agosto, a visita de Marcelo Torres Piza Paes, Consultor Sênior da Petrobras nas áreas de Metalurgia e Soldagem, para reunião de atualização sobre o projeto “Fragilização Hidrogênio Titânio”, iniciado em janeiro do ano passado. A iniciativa tem o objetivo de subsidiar o uso de ligas de titânio em plataformas de petróleo marítimas, a partir de contrato firmado entre a Petrobras e a unidade da Empresa Brasileira de Pesquisa e Inovação Industrial sediada na UFSCar (Embrapii-UFSCar Materiais). A coordenação é de Claudemiro Bolfarini, docente no Departamento de Engenharia de Materiais (DEMa), com equipe dedicada a estudar os desafios e as soluções relacionadas à integridade dos materiais diante do fenômeno de fragilização por hidrogênio (hidrogenação).
Na reunião, os pesquisadores apresentaram em detalhes os avanços metodológicos, destacando os resultados já alcançados e, também, as próximas etapas previstas. Bolfarini caracteriza o processo como inovador e desafiador. “O projeto busca desenvolver um novo sistema de interligação de tubulações rígidas a navios de produção tipo FPSO para plataformas de petróleo offshore – no mar. Para isso, estamos projetando o uso de ligas à base de titânio. Existem lacunas de conhecimento que precisam ser preenchidas, especialmente na geração de dados que sustentem os cálculos estruturais desse sistema”, compartilha.
O estudo concentra-se na influência do hidrogênio no comportamento mecânico das ligas de titânio selecionadas. Embora esses materiais apresentem elevada resistência à corrosão em ambientes agressivos, como os das plataformas de petróleo marítimas, estão sujeitos à fragilização por hidrogênio, o que pode comprometer sua integridade estrutural em determinadas condições. O projeto busca identificar em quais cenários esse efeito se manifesta e avaliar sua relevância para a operação das plataformas, com o objetivo de definir limites operacionais seguros. A meta é fornecer dados que possam orientar decisões técnicas estratégicas.
O representante da Petrobras destaca a importância do projeto e da cooperação com a Embrapii-UFSCar. “Essa interação é fundamental para o avanço do projeto. Não existem dados prévios sobre essa condição específica, que é única. Estamos desenvolvendo protocolos inéditos para iniciar os experimentos, e essa parceria acelera a geração de conhecimento aplicado sobre ligas de titânio em plataformas marítimas, reduzindo incertezas tecnológicas e oferecendo maior flexibilidade para o projeto. É nesse ponto que a colaboração com a Embrapii-UFSCar se mostra estratégica, pois cria condições para inovar e buscar soluções inéditas dentro da Petrobras”, ressalta Piza.
Ele reitera que o desafio de testar ligas de titânio nesse contexto é inédito para a companhia. Experiências anteriores de outras empresas abordaram o material em condições distintas, não diretamente relacionadas às tubulações que conduzem petróleo ou injetam gás em reservatórios submarinos — componentes submetidos a altas pressões e esforços mecânicos significativos. “O conhecimento sólido sobre a integridade estrutural desses sistemas, considerando o efeito da hidrogenação, é essencial. Nosso objetivo é garantir que os projetos tenham vida útil de até 30 anos sem risco de falhas. A parceria com a Embrapii-UFSCar complementa os esforços já estabelecidos no termo de cooperação inicial junto à Agência Nacional do Petróleo (ANP), permitindo acesso a equipamentos de ponta, consultorias especializadas e insumos essenciais para o andamento dos experimentos”, conclui.
O projeto está sendo desenvolvido no Centro de Caracterização e Desenvolvimento de Materiais (CCDM), com a colaboração do Laboratório de Caracterização Estrutural (LCE) e do Laboratório de Hidrogênio em Metais (LHM), além de uma vasta estrutura de outros laboratórios do DEMa.